domingo, 8 de janeiro de 2012

Baía da Ilha Grande 2012: dez pontos para honrar

O ano ambiental do Brasil termina sem nada a comemorar. Na atual conjuntura desenvolvimentista insustentável, faz sentido a destruição do Código Florestal, a diminuição dos poderes de regulamentação dos Conselhos do Meio Ambiente de todas as esferas públicas e da competência do IBAMA de (bem)fiscalizar. Nesse palco, os ambientalistas públicos continuam a fazer mera política ecológica, enquanto que a verdadeira política ambiental fica a cargo de setores oficiais mais valorizados, como agricultura, minas e energia e até o BNDES.
No Rio de Janeiro não é diferente.  O ano de 2011 começou com as trapalhadas no enfrentamento dos desastres geológicos de sempre, no esquecimento das mortes e no desbaste da dinheirama alocada em intermináveis obras. O ano de 2011 termina emoldurado pela inércia governamental e pelas risíveis respostas prontas aos vazamentos de óleo, em Campos e na Baía da Ilha Grande. Afinal, com baixos orçamentos, dependentes de multas e de medidas compensatórias, ao poder público só resta administrar o desastre, e não a prevenção. O ano também chega ao fim de modo preocupante em duas de suas monumentais baías: na de Sepetiba, com sua política ambiental já determinada pelos terminais, estaleiros e usinas siderúrgicas; e na da Ilha Grande, marcada pelo imobilismo da área ambiental governamental no trato de suas áreas protegidas.
Os administradores de Angra dos Reis repetem seus erros e rompem o ano interditando casas e áreas em situação de risco, sem ter concluído nenhuma das obras de contenção de suas encostas. Município com maior número de pessoas (cerca de 45 mil) em situação de perigo, segundo o Serviço Geológico (CPRM), ainda exibe o troféu de décima cidade do país em proporção de domicílios em favelas. Em parceria com sua vizinha Paraty, joga para as calendas gregas os projetos de saneamento ambiental. 
Carente de um olhar sistêmico, o modus operandi da área ambiental fluminense atém-se à retórica da mudança, sem sair do lugar, e a de prometer, sem dó nem piedade. Não é à toa que questões estratégicas são olimpicamente negligenciadas, como a chegada dos bilhões do pré-sal.
A improdutividade oficial se caracteriza pela ojeriza ao diálogo e à crítica. É flagrante a resistência aos preceitos ético-legais que regem a gestão compartilhada, o que faz com que nada aconteça, a despeito do expressivo progresso das relações sociais que nivela a todos como sujeitos, e não mais como sujeitos-objetos. Um belo exemplo é o da elaboração participativa do Plano de Manejo e zoneamento territorial da Área de Proteção Ambiental (APA) de Tamoios, em Angra dos Reis, iniciada em 2007 e concluída em meados de 2010, parado até hoje no colo do governo do estado, sem data para existir. O dedo da sociedade civil organizada nesse trabalho deixou insatisfeitos interesses imobiliários, e até o governador. Este, em troca, colocou o seu dedão no conhecido decreto nº 41.921, para presentear seus parceiros com as melhores áreas. Questionada a sua ilegalidade pelo Ministério Público, o decreto se encontra no STF desde 2010 para julgamento de inconstitucionalidade.
Ao contrário do passado, quando a falta de recursos era a senha para nada fazer, hoje o que não falta é grana e fortes ventos a favor. Não tem sido por falta de recursos financeiros e apoio da sociedade que as unidades de conservação da Baía da Ilha Grande não saem do papel; é por indigência das boas práticas gerenciais para vencer o desafio de transformar vontade política em realidade concreta. Os entes federativos mostram-se craques em discursos e promessas, fazendo com que a agenda socioambiental só cresça e importantes demandas mofem no fim da fila.
Pelo seu lado, os movimentos sociais, aos trancos e barrancos, como a armada brancaleônica, forjam a cidadania e a luta pelo controle social. Esforçam-se para participar do planejamento criterioso e ordenado de espaços públicos, com participação qualificada, de olhos voltados para a justiça social.
Torna-se assim prudente e racional para as instâncias de governo buscarem cumprir, com a devida seriedade e espírito público, o decálogo a seguir. É hora de assumirem um discurso mais voltado para a ética da verdade.

1.    Olhar o Estado para além do governo: criar um espaço interinstitucional voltado para uma administração regional estratégica, para além de duas ou três eleições, com protagonismo e projetos estruturantes, direcionados para os cenários do pré-sal e da economia verde;
2.    Abandonar as obsessões arbitrárias e tornar democrática e eficiente a gestão das unidades de conservação e dos espaços públicos da região;
3.    Revogar o decreto nº 41.921 e dar vida legal  ao zoneamento da APA Tamoios;
4.    Radicalizar a reforma da administração pública ambiental, para dar eficiência à maquina e assim, erradicar de vez o “deixa estar para ver como é que fica”;
5.    Combinar o fortalecimento do Comitê de Bacia Hidrográfica com a criação da APA Marinha, ambos na Baía da Ilha Grande, com recursos garantidos e com regras de uso e de ordenamento definidos e aprovados;
6.    No campo legal, incorporar na agenda a criação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação, o aprimoramento e o efetivo uso do aparato legal existente, acompanhado de uma  política de fiscalização eficaz, com recursos assegurados e pessoal capacitado;
7.    Acelerar os estudos e projetos relacionados com as questões geológicas, alocando os recursos necessários para a realização das obras requeridas;
8.    Promover a efetiva regularização fundiária das terras públicas da Ilha Grande e do continente;
9.    Implantar definitivamente as unidades de conservação da Ilha Grande, integrando-as às comunidades e dar curso à criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Aventureiro.
10. Atender ao exigido no Termo de Ajuste de Conduta assinado em 2002 com o Ministério Público, em particular às questões relacionadas com o saneamento da Ilha Grande.

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