Hoje, 20/01/2012 o tão famoso
quanto desmoralizado TAC da Ilha Grande faz dez anos de completo
descumprimento. Sua duração prevista era de um ano.
Depois de uma abaixo-assinado
entregue ao então governador Garotinho em 2000 e de ter liderado o fechamento,
no peito, em 2001, de um lixão totalmente irregular no território da ilha, o
CODIG viu os resíduos produzidos pelos moradores e turistas tomarem outro
destino: o continente. E o Ministério Público se mexer.
A presença festiva, na Vila do Abraão,
do então Ministro do Meio Ambiente Zequinha Sarney Filho, do Ministério Público
e do primeiro e segundo escalão das três instâncias de governo anunciava as tão
esperadas soluções, no atacado, para os sérios e urgentes problemas da sétima
maravilha do estado e da trigésima ilha mais bem conservada do mundo. Em um
ano, segundo o instrumento de execução extra-judicial assinado, a Ilha
Grande estaria com canteiros de obra espalhados em seu território para amenizar
pelo menos dois dos sofrimentos nossos de cada dia: esgoto e lixo. Ledo engano.
Nenhuma festa de inauguração. Nada aconteceu.
Eis os compromissos assumidos:
Município: saneamento das áreas populosas, elaboração de Planos
de Recuperação de Áreas Degradadas e de Gestão de Resíduos Sólidos, aí incluído
o projeto de uma barcaça para remoção do lixo para o continente, a ser
presenteada pela União;
UERJ: destinação dos escombros do presídio de Dois Rios, posto abaixo
em 1994;
Feema (incorporada ao INEA em 2008): além de aprovar os projetos
apresentados pelos demais signatários do TAC realizar estudo de capacidade de
carga e disciplinar a realização de obras e construções;
IEF (incorporado ao INEA em 2008): fiscalizar e aprovar alguns
projetos, em especial o de Recuperação de Áreas Degradadas;
Secretaria Estadual de Meio Ambiente (agora Secretaria Estadual
do Ambiente): aportar cento e doze mil reais para o Plano de Gestão de Resíduos
Sólidos e elaborar um Plano de Gestão Ambiental;
Ibama: elaborar projeto de atratores artificiais para promover a
melhoria do uso dos recursos pesqueiros e paisagísticos do entorno da Ilha
Grande;
Ministério do Meio Ambiente: aportar recursos da ordem de um milhão
e quinhentos mil reais para o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos e viabilizar a
aquisição da barcaça, a partir do projeto apresentado pelo município.
Passado dez longos, eis o balanço:
Na esfera municipal, nada, a não
pequenas intervenções nos sistemas de esgotamento sanitário, muito mais como
tapa-buraco na manutenção, e pomposas notícias nos jornais locais de que a
"verba do saneamento" iria sair em breve. E o lixo? continua a
permanecer nas vias ou viajar em traineiras improvisadas que largam os
indefectíveis sacos pretos no mar. E o projeto da barcaça? Em uma cidade com
tradição naval, possuindo um sem números de estaleiros, o que será que impediu o
município de desenvolver um projeto de uma barcaça que, como
exigido no TAC, deveria ter o "porte compatível com o Plano de Gestão
de Resíduos Sólidos"?
Mesmo com a mudança de governo em
2007 pouco ou quase nada foi efetivamente feito, frustrando sobremaneira os que
apostaram na nova administração. Os recursos obtidos junto ao Fundo de
Conservação Ambiental (FECAM) da ordem de cinco milhões de reais destinados ao
saneamento da Ilha Grande viraram fumaça, quer dizer, deram chabu, o que
precisa ser explicado. E agora, com as obras paradas e os equipamentos e obras largados
no tempo, vem a nova promessa de mais dez milhões de reais.
Onde estão os atratores do Ibama?
A UERJ cumpriu parte de seus deveres
ao apresentar o projeto do Ecomuseu no qual os entulhos do presídio virarão peças
de museu. Mas continua com o pires na mão aguardando recursos para dar continuidade
ao seu projeto.
Quanto aos estudos de capacidade
de carga da Ilha Grande, o atual governo do estado criou em 2007 um grupo de
trabalho para conduzir o assunto, que parece estar em vias de deslanchar .
E o Ministério do Meio Ambiente,
quando será procurado pelo município para conversar sobre o presente da barcaça
e do cheque federal de um milhão e meio de reais?
Passaram-se dez anos do
desembarque do ministro Sarney Filho na Ilha Grande. Mudaram ministros,
governadores, prefeitos, secretários. Mas o cenário de descaso permaneceu o
mesmo.
Apesar da série de descasos por
parte das autoridades, no décimo aniversário do TAC da Ilha Grande poucos ainda
se lembram de sua existência. E muito menos da sua cláusula sexta que dispõe
sobre o descumprimento das obrigações pelas partes signatárias – Prefeitura de
Angra, Ministério do Meio Ambiente, etc. – que obriga ao pagamento de multa por
dias corridos. Somados os mais de três mil e seiscentos dias passados desde a
festiva apresentação do TAC, na Vila do Abraão, muita gente teria que
desembolsar exatos sessenta e nove milhões de reais por punição.
Já que a amnésia é geral no poder
público, a população de Ilha Grande vai se virando como pode. Sentada.
E o TAC da Ilha Grande? Afinal,
(ainda) vai ser cumprido?
Boa pergunta para o Ministério
Público responder e perguntar quem vai botar a mão no bolso.
Alexandre, muito bem lembrado! Pena é que não tenha sido incluído, à época, a iminente favelização da Ilha, o que vem ocorrendo a olhos vistos, e os problemas com segurança, que ameaçam a todos nós. Lógico que tudo isso está imbricado e já teria tido algum resultado se o famigerado PAC tivesse sido levado à sério. Pobre Ilha! E agora, ainda vêm, as odiosas - e perigosas - plataformas da Petrobrás a fazer concorrência com os cruzeiros e outras mazelas cotidianas. É só correr os olhos pelo horizonte para engolir em seco ao ver tais barbaridades
ResponderExcluirem nossa amada baía. Muito triste!
Abraços da Alba.